Vidro delaminado

Um dos temores de quem possui um carro blindado, é o surgimento do processo de delaminação de algum dos vidros.

Como já abordamos em outras matérias, o fenômeno da delaminação dos vidros nada mais é que o descolamento entre polímeros (normalmente o policarbonato) e vidros que formam o chamado pacote balístico. Com os devidos cuidados necessários, este indesejado fenômeno pode ser bastante minimizado.

Desde a Portaria n. 55 Colog de 11 de agosto de 2017 do Exército Brasileiro, até a atual Portaria n. 94 Colog de 16 de agosto de 2019, não é mais permitida a recuperação ou reparação de vidros com propriedades balísticas.

De acordo com a última portaria 94 Colog:

“CAPÍTULO V – DO DESTINO FINAL DAS BLINDAGENS
Art. 62. A substituição de blindagens balísticas deve ser realizada por pessoa jurídica registrada no Exército e deve ser declarada e justificada por intermédio do SICOVAB.
Parágrafo único. Não será autorizada a recuperação e posterior reutilização de blindagem balística aplicada em veículos, embarcações, aeronaves, estruturas arquitetônicas ou em viaturas de OSOP.

Art. 63. As blindagens balísticas inservíveis ou com avarias, inclusive delaminação, devem ser destruídas.
Parágrafo único. A responsabilidade pela destruição das blindagens substituídas é do seu proprietário e da blindadora que realizou a substituição, que deverá executá-la.”

Desde então, quando do surgimento de algum processo de delaminação, não é mais possível efetuar qualquer tipo de reparo ou reprocessamento, sendo necessária a substituição do vidro afetado, tornando o custo da solução bastante elevado.

Para uma melhor compreensão prática sobre essa questão, fomos ao mercado buscar informações com empresas especializadas na manutenção de blindados.

Visitamos na região de Moema em São Paulo, a Donatti’s Blindados, empresa especializada na manutenção de veículos blindados. Segundo Nilton Donatti, diretor da empresa, a maior incidência de delaminações ocorre em parabrisas e vigias traseiros (vidro traseiro), pois são os vidros que estão mais expostos à incidência dos raios solares.

Ainda de acordo com Nilton, dependendo do vidro a ser substituído, o processo pode ser bastante trabalhoso, sendo justamente o parabrisa e vigia os mais complexos.

Estivemos também na Concept Garage na Vila Olímpia, São Paulo, especializada na manutenção e reparação de blindados, onde fomos recebidos pelo Gerente Técnico, Ricardo Santos. A Concept Garage faz parte do Grupo Concept Be Safe que atua no mercado há 20 anos no segmento de blindagem automotiva.

Ricardo confirmou também, que as principais ocorrências de delaminação acontecem no parabrisa e vigia traseiro. Pudemos conferir na prática o processo de substituição de um parabrisa e o quanto o mesmo exige habilidades específicas.

Antes mesmo do início do processo de remoção do parabrisa, foram necessárias as remoções dos acabamentos internos das colunas dianteiras (chamadas de colunas “A”), remoção dos quebra-sóis, remoção da blindagem dos sensores e câmera presentes no parabrisa, remoção dos próprios sensores e câmera, desprendimento de parte do forro de teto e por fim, a remoção do aço fixado na parte superior interna do teto.

Finalmente é iniciado o processo de remoção do parabrisa através da passagem de um cordão de aço por todo o seu entorno, cuja função é a de cortar a cola que fixa o parabrisa.

Dependendo do projeto de blindagem do veículo, pode ser necessária a prévia preparação e conformação de uma moldura de aço sob as abas do novo parabrisa a ser instalado.

Após a instalação do novo parabrisa, são remontadas todas as partes removidas e quando da presença de câmera, normalmente faz-se necessária a realização de processo de calibração por software específico para que o sistema volte a funcionar.

Segundo Ricardo Santos, na maioria das vezes o proprietário do blindado acaba optando por um novo vidro blindado com marca diferente daquela que estava instalada, pois a variedade de ofertas de fabricantes de vidros para reposição é bastante interessante.

Ao término das visitas, preparamos uma coletânea com algumas importantes dicas dos especialistas para evitar o surgimento do processo de delaminação dos vidros:

– O aquecimento acelera o processo de delaminação. Evite estacionar o veículo em locais com exposição ao sol.

– Para efetuar a limpeza dos vidros, utilizar somente panos limpos e quando necessário, umedecidos com água. O uso de produtos  quimicos, principalmente à base de solventes, pode provocar reações químicas com os polímeros e iniciar um processo de delaminação dos vidros, com o aparecimento de pequenas trincas.

– Acessórios que utilizam ventosas como forma de fixação aos vidros, como suporte para celulares e cortinas para crianças, bem como qualquer tipo de adesivo, podem provocar danos e manchas, acelerando o processo de delaminação dos vidros.

 

Seguindo as dicas sugeridas, o proprietário do blindado certamente conseguirá preservar os vidros de um precoce processo de delaminação. Se precisar de algum serviço em seu blindado, lembre-se de utilizar sempre um prestador de serviços devidamente habilitado pelo Exército Brasileiro, ou seja, que possua o CR – Certificado de Registro.

2 thoughts on “Vidro delaminado

  • 18/05/2023 em 02:36
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    – A aplicação de películas em envidraçamentos de resistência balística (ERB’s) também acelera o processo de delaminação, sendo vedada por norma, ABNT NBR 16751.
    As películas são de aplicação sobre superfícies de vidro, o que não é o caso em ERB’s.
    – O EB (Exército Brasileiro) deveria autorizar a ‘remanufatura’ (ABNT NBR 15296), processo realizado pelo respectivo fabricante originário.

    • 19/05/2023 em 20:01
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      Ronald, agradecemos o seu esclarecedor comentário.

Fechado para comentários.